A principal característica da Viagem Lenta – ou Slow Travel - é ser uma contraposição ao turismo de massa, que, culturalmente, habituou-se em focar e incentivar a visitação de atrações turísticas mais conhecidas de um determinado local, desconsiderando, por exemplo, o ritmo e interesse pessoal de cada pessoa.
Como a própria denominação diz – é um turismo de massa – e não individualizado, isto é, que pode não respeitar o ritmo e o gosto pessoal que cada um deseja vivenciar naquele momento.
Um exemplo prático, e, talvez mais didático de entender o que chamamos de “turismo tradicional”, é o “pacote de viagem”.
Com frequência, nos deparamos com algumas agências oferecendo pacotes de viagem de “x” dias para ver “y” pontos turísticos.
Evidente que a intenção – na maioria das vezes - é oferecer aos seus clientes a praticidade e a conveniência de "listar" o que há de mais “interessantes” em um determinado destino.
Nós mesmos, no papel de consumidores - que não temos tempo a perder, aceitamos, de bom grado, as escolhas e roteiros que outra pessoa fez para a gente.
E pode até ser que seja realmente irrelevante se o ponto turístico “x” nos foi oferecido sem nosso critério pessoal. As atrações ou lugares, podem ser sim, fabulosos e muito interessantes.
Contudo, alguns pontos iniciais nos quais tenho me questionado, e que a viagem mais lenta – Slow Travel – levanta são:
1. Quem pode dizer o que é “mais” interessante de vermos ou vivenciarmos numa viagem?
2. Será que não estamos delegando demais uma escolha que poderia ser feita por nós mesmos?
3. Será que estamos deixando de aproveitar mais a experiência e focando muito na visitação “automática” de um lugar? Muitas vezes, apenas com a intenção de fazer uma foto bonita ou dizer que: “Ah, lá eu já fui (check)”?
4. Estamos de fato, PRESENTES, no momento e no lugar no qual estamos visitando?
5. Nos perguntamos antes de partirmos, porque desejamos ir para determinado lugar?
Esses são alguns questionamentos iniciais e pessoais que tenho refletido ultimamente, e que também encontrei lendo sobre o movimento Slow Travel – ou, podemos dizer, “Filosofia Lenta”.
O Movimento Slow nos faz pensar em quanta coisa boa deixamos de conhecer, experimentar e vivenciar - de verdade - em detrimento aos padrões culturalmente estabelecidos pelos outros.
Será que temos que "mitar" (também) na viagem? Mas, não era para tirarmos - as raríssimas férias - para relaxar, se divertir ou descansar? O que estamos fazendo, afinal? Isso é viajar?
Há muito o que refletir sobre este tema, por exemplo:
1. Qual o tamanho da influência da tecnologia (leia-se redes sociais) no nosso comportamento de viajante?
2. Por que, às vezes, voltamos de uma viagem e dizemos: “Agora, preciso tirar férias!”
3. Sabemos a diferença entre OLHAR e CONTEMPLAR um ponto turístico?
4. Que tipo de viajante somos: blogueiro, focado, tranquilo, nômade, etc? (Isso pode ser um ponto importante a se considerar!)
Finalizando: não estou dizendo que visitar pontos turísticos famosos são ruins ou que não devem ser feitos. Muito pelo contrário!
Se a oportunidade de conhecer um marco histórico ou uma paisagem de tirar o fôlego surgiu, agarre-a! Isso faz parte do nosso aprendizado como viajantes e amplia nossa cultura.
Algo muito importante e basilar numa viagem é voltar com mais informação, mais conhecimento e novas experiências de vida: a lembrança de uma bela paisagem; a recordação de um lugar especial; a alegria de ter apreciado algo novo... Isso não tem preço!
O que estamos trazendo para reflexão não é ONDE, mas COMO viajamos!
Esse pode ser o marco zero da nossa discussão aqui.
📝PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DESTE POST *:
A arte da quietude: Aventuras rumo a lugar nenhum. Pico Iyer (2015)
Andar a pé: um ritual interior de sabedoria e liberdade. Henry David Thoreau (2021)
Beleza. Roger Scruton (2013)
Caminhar, uma filosofia. Frédéric Gros (2009)
Devagar. Carl Honoré (2019)
Universidade de São Paulo - USP
🐌 GUIA BÁSICO DO SLOW TRAVEL:
*Nota: Este post é um editorial.
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