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Por Que Criamos Laços com Lugares?

Atualizado: 5 de nov. de 2024


O ambiente pode influenciar nosso bem-estar físico e psicológico.

Quando exploramos o conceito de Slow Travel, nos deparamos com uma série de conteúdos que, frequentemente, abordam temas transversais, como práticas contemplativas, filosofia, psicologia, urbanismo, arte, entre outros.


Até o momento, não identifiquei nenhuma obra "estruturada" que trate especificamente o Slow Travel, exceto algumas pesquisas acadêmicas.


Isso acontece porque, ao contrário do movimento Slow Food, o Slow Travel nunca foi "formalizado" na prática, surgindo de maneira espontânea, influenciado principalmente pelas ideias do Slow Movement.


Diante disso, acredito que a melhor maneira de aprofundarmos nosso entendimento sobre a Viagem Lenta seja integrar diversas disciplinas para ampliar nossa perspectiva sobre o tema.


Ao longo dessa jornada de autodescoberta, tenho pesquisado sobre os vínculos entre bem-estar psicológico e o ambiente que nos cerca.


Nesse estágio da minha investigação, deparei-me com algumas conexões interessantes entre Slow Travel e Psicologia Ambiental.




Apego ao Lugar


A Psicologia Ambiental surge no final dos anos 1960 como um campo relativamente novo dentro da Psicologia, buscando compreender, entre outros aspectos, como os espaços físicos moldam nossas emoções, comportamentos e identidades.


Esse ramo da Psicologia explora, basicamente, como as interações entre pessoas e os ambientes onde vivem, trabalham e transitam influenciam suas experiências subjetivas e contribuem para o bem-estar emocional.


Entre seus conceitos fundamentais, destaco o "apego ao lugar", uma ligação emocional profunda que estabelecemos com os locais que consideramos significativos em nossas vidas.


Esse vínculo pode se manifestar de diversas maneiras, como sentimentos de pertencimento, identidade, segurança, conforto e até mesmo nostalgia em relação a um determinado local.


O termo foi cunhado por Edward J. Relph, um geógrafo cultural e professor emérito da Universidade de Toronto, em seu livro "Place and Placelessness" publicado em 1976.


Relph argumenta que as pessoas desenvolvem uma conexão emocional com determinados lugares que têm significado para elas, e que essa conexão desempenha um papel fundamental na formação de identidade e senso de pertencimento.

Quando pensamos em "apego ao lugar", inevitavelmente revisitamos, por exemplo, memórias de infância da cidade natal.


Cada rua, cada praça, cada esquina carrega lembranças de experiências marcantes. É o parque onde aprendemos a andar de bicicleta, a escola onde passamos os intervalos conversando com amigos, a casa da avó que sempre cozinhava bolo de chocolate.


Esses lugares não são apenas pontos no mapa, mas sim partes integrantes da nossa história pessoal, enraizadas na nossa identidade.

Estudos demonstraram que pessoas com um forte "apego ao lugar" tendem a experimentar níveis mais elevados de satisfação e bem-estar em suas vidas.


O sentimento de pertencimento e familiaridade proporcionado por um ambiente acolhedor pode promover calma, estabilidade e contentamento.


Este apego não se limita apenas ao ambiente físico; também pode se estender a comunidades, vizinhanças e até mesmo a laços culturais e históricos.


A sensação de fazer parte de algo maior do que nós mesmos contribui para o nosso senso de identidade e propósito, fundamentais para o bem-estar emocional e social.




Identidade de Lugar


A "identidade de lugar" é outro conceito importante da Psicologia Ambiental que refere-se a uma parte fundamental de quem somos, moldada pela forma como interagimos com o ambiente em que vivemos, seja ele físico, como nossa casa, ou social, como nossa comunidade. 


Nossa identidade pessoal é como montar um quebra-cabeça ao longo da vida, com peças que representam nossas experiências, gostos, valores e visão de mundo. 


Conforme crescemos, aprendemos e enfrentamos desafios, nossa identidade se desenvolve, refletindo nossas preferências, momentos felizes, conquistas, etc.


Esse processo de formação da identidade é influenciado pelo ambiente, que pode moldar nosso comportamento, autoimagem e visão de mundo, além de influenciar nossos valores culturais e morais.

Dessa forma, a construção da "identidade de lugar" desempenha um papel fundamental para nos tornarmos quem somos.




Por Que Criamos Laços com Lugares ?


O ambiente é parte de um conjunto de outros elementos - biológicos, psicológicos, sociais, etc - que pode impactar nosso comportamento, pensamentos e emoções.


Os conceitos de "apego ao lugar" e a "identidade de lugar" ajudam a explicar como desenvolvemos laços emocionais e cognitivos com os ambientes que frequentamos.


Esses laços podem ser influenciados por experiências passadas, memórias e associações emocionais.


Quando nos sentimos familiarizados com um lugar que visitamos pela primeira vez, pode ser porque esse ambiente compartilhe características com outros lugares que já conhecemos.

Nosso cérebro tem uma tendência natural a reconhecer padrões familiares e a associar novas informações com experiências anteriores, o que pode criar uma sensação de proximidade, mesmo em um ambiente desconhecido.


Além disso, a familiaridade pode ser reforçada por elementos como a arquitetura, a paisagem, os sons e os cheiros do ambiente, que evocam lembranças e emoções familiares.


Através da exposição repetida a esses estímulos, podemos desenvolver uma sensação de conforto e pertencimento em relação ao lugar, mesmo que seja a primeira vez que o visitemos.


Dessa forma, a sensação de familiaridade com novos lugares surge de uma interação complexa entre nossas experiências passadas, nossas percepções individuais e as características únicas do ambiente.

Compreeder isso nos ajuda a entender melhor como nos conectamos com os lugares que exploramos durante nossas viagens, enriquecendo assim nossa experiência.




Laços Profundos: A Essência do Slow Travel


O conceito de "apego ao lugar" e "identidade de lugar", fundamentais na Psicologia Ambiental, desempenham um papel interessante na compreensão de como nos relacionamos com os ambientes que frequentamos.


Esses conceitos nos mostram como desenvolvemos laços emocionais e cognitivos com os lugares, moldando nossa percepção e experiência.


Quando aplicamos isso ao contexto do Slow Travel, onde enfatizamos a conexão com os locais visitados e a imersão nas culturas locais, percebemos que esses laços se tornam ainda mais profundos e significativos.


Durante uma Viagem Lenta, exploramos os lugares de forma mais consciente e profunda, permitindo que nossa "identidade de lugar" se desenvolva gradualmente.


Cada nova experiência contribui para a construção de nossa narrativa pessoal, enriquecendo nossa compreensão do mundo e de nós mesmos.


A familiaridade com os ambientes, a conexão com as comunidades locais e a apreciação dos detalhes são aspectos essenciais do Slow Travel que fortalecem esses laços emocionais.

Ao desacelerar e absorver verdadeiramente a essência de cada lugar, somos capazes de mergulhar em sua cultura, história e atmosfera única.


Essa imersão profunda nos permite não apenas apreciar o destino, mas também nos conectarmos a ele de uma maneira que transcende o turismo convencional.


Assim, a viagem se torna uma experiência enriquecedora não apenas para o corpo, mas também para a mente, promovendo um sentido mais profundo de pertencimento e identidade em relação aos lugares que visitamos.


¨ 📝 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DO POST *:

Perfect Days. Filme de Wim Wenders e Takuma Takasaki (2023)

Place and Placelessness. Edward J. Relph. (1976)

Psicologias: Uma Introdução ao Estudo de Psicologia. Ana Mercês Bahia Bock (2005)

Qual o espaço do lugar? (Org.) Eduardo Marandola Jr. (2012)

Walden ou A Vida nos Bosques. Henry David Thoreau. (2018)

Temas Básicos em Psicologia Ambiental (Org.). Sylvia Cavalcante e Gleice A. Elali (2017)

Land. Filme de Robin Wrigh (2021)


🐌 GUIA BÁSICO DO SLOW TRAVEL:


*Nota: Este post é baseado em pesquisas informais.

*Artigo © 2021–2024 Viajar Sem Pressa. Todos os direitos reservados.

 

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