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Foto do escritorFernanda Paula

Como Explorar Gênova Lentamente em 2 Dias?

Atualizado: 7 de nov.


É possível conhecer Gênova do alto a partir da esplanada Castelletto. (Foto: Gina)

Surpresa Já no Primeiro Dia


Comecei meu primeiro dia em Gênova tomando café da manhã (colazione, em italiano) em um bar em frente à minha hospedagem. 


Em geral, a regra matinal na Itália é acompanhar uma bebida quente com algo doce, como um "cornetto", uma espécie de croissant que pode ser recheado ou "vuoto" (vazio). Mas, como preciso de algo salgado pela manhã, pedi um "panino", um sanduíche simples, servido frio ou quente, e o acompanhei com o melhor cappuccino que já tomei na Itália até então!


Nunca imaginei que a Ligúria, uma região conhecida pelo genuíno molho pesto, pela focaccia e tantos outros sabores, me marcaria logo de início com uma bebida! Essa grata surpresa já sinalizava que a viagem começava com o pé direito.


Vista do Porto Antico, Gênova, Itália (Foto: Daniel Barabas)

Há Muitas "Gênovas" Para Explorar


Gênova foi uma das mais poderosas repúblicas marítimas do Mediterrâneo, especialmente entre os séculos XI e XV, com uma vasta rede comercial e influência naval que marcou profundamente sua história e arquitetura.


A cidade é uma das maiores da região da Ligúria, situada na costa noroeste da Itália. Foi construída em um terreno montanhoso, elevando-se entre as colinas do norte e o Mar Lígure. 


Essa geografia faz com que o visitante opte por explorar a cidade em diferentes níveis: a parte mais baixa, onde ficam o centro histórico, o porto e algumas praças icônicas com magníficos edifícios e belíssimos pórticos que abrigam o comércio local; e os bairros mais elevados, como o Castelletto, fora da Zona de Tráfego Limitado (ZTL), acessíveis por elevadores e funiculares, que levam a castelos e a incríveis miradouros com jardins relaxantes.


No meu caso, acabei explorando apenas o que estava próximo à minha hospedagem, perto da Stazione di Genova Piazza Principe, concentrando-me assim na parte baixa por pura praticidade.


Para quem planeja um roteiro de dois dias, minha dica é explorar pelo menos um pouco de cada um desses dois níveis, para contemplar a cidade de perspectivas diferentes.


Mas a escolha depende do que lhe atrai mais: a arquitetura e a parte histórica ou as vistas impressionantes dos pontos mais altos, especialmente em uma estadia curta.




Afinal, o Que Contemplei em Apenas Dois Dias?


Após aquele surpreendente café da manhã, iniciei minha lenta jornada de exploração, caminhando em linha reta pela Via Balbi, uma das principais ruas históricas da cidade, repleta de opções de hospedagem.


Ali, também é possível acessar o elevador que leva ao Castello D'Albertis, na zona do Castelletto, onde há um jardim relaxante e uma bela vista panorâmica da cidade.


Durante o percurso, entre uma simpática banca de flores, aberta em pleno domingo, e o andar preguiçoso de alguns pedestres locais, fui surpreendida pela imponente fachada do Museo Palazzo Reale di Genova, também conhecido como Palazzo Stefano Balbi, e, mais à frente, pela ornamentada porta da Universidade de Gênova, fundada em 1481. 


O Palácio Real de Gênova, construído para a família Balbi entre 1618 e 1620, foi transformado em um edifício barroco por Eugênio Durazzo em 1677. Preservando até hoje seus interiores e móveis originais do século XVII, o acervo aberto à visitação inclui esculturas antigas e modernas, com destaque para obras de Filippo Parodi, renomado escultor barroco genovês.


Ao final da rua, na Piazza della Nunziata, a imponente Basilica della Santissima Annunziata del Vastato, construída no início dos anos 1520, foi a primeira igreja que explorei. A escadaria e a fachada já impressionaram, mas o interior exuberante, repleto do dourado característico da época, me convidou a passar alguns minutos absorvendo cada detalhe.


Grupo de patinadores passeando na movimentada Piazza della Nunziata.

Saindo da basilica, observei um grupo de jovens patinadores de coletes amarelos, que chamava a atenção de quem passeava por ali. Cruzei a praça, e segui em direção à Via Cairoli, uma das principais vias das chamadas 'Le Strade Nuove' (As Ruas Novas), conjunto de ruas do centro histórico de Gênova, construído em meados do século XVI e onde se encontra o famoso sistema de palácios conhecido como 'Rolli di Genova'. 


Já na Via Garibaldi, passei por entre um grupo de senhores e senhoras de cabelos grisalhos, atentos à guia turística que, aparentemente, explicava o que eram os Palazzi dei Rolli, e quais deles abrigavam obras de Caravaggio e Peter Paul Rubens, além do violino de Nicolò Paganini, chamado de 'Il Cannone Guarnieri', exposto no Palazzo Doria-Tursi.


No começo desta rua, é possível disputar uma cadeira para descansar e apreciar o vai e vem das pessoas, saboreando aquele maravilhoso gelato italiano! Essa é, sem dúvida, uma das melhores partes da experiência, não é mesmo?


Para mim, esses momentos de pausa são essenciais durante a viagem, pois nos permitem interagir com os moradores, observar detalhes que podem passar despercebidos e nos perder em devaneios, deixando que imagens, ideias e sensações fluam livremente.


Ao parar para ver e ouvir verdadeiramente, aprendemos sobre os hábitos locais e criamos memórias significativas que vão além de uma lista de "coisas para fazer".

Em vez de se preocupar em completar um itinerário, concentre-se em vivenciar plenamente cada momento.




Mergulhando na Beleza da Arquitetura Genovesa


Após essa parada estratégica, continuei seguindo pela mesma rua, onde a riqueza arquitetônica se revelava a cada passo. 


O caminho é adornado por doze imponentes palácios, que ilustram o auge da arquitetura genovesa, entre eles o Palazzo Bianco, o Palazzo Rosso e o Palazzo Doria-Tursi, que hoje abriga a prefeitura. 


O único edifício em que entrei foi o belíssimo Palazzo Nicolosio Lomellino, ou Palazzo Podestà, construído entre 1559 e 1565. A grandiosa fachada ornamentada impressiona, e, ao adentrar, avistei o riquíssimo teto azul-claro em estuque do átrio - uma pequena sala de entrada, cheia de detalhes minuciosos. 


Logo adiante, tive a oportunidade de espiar uma bela escultura do 'Il Ninfeo' de Domenico Parodi, que adorna o pátio inicial e conecta o espaço ao jardim. Ali também ficava a bilheteria, onde eram vendidos ingressos para uma exposição dedicada ao pintor e escultor genovês, além do acesso ao "Jardim Secreto".


O 'Il Giardino Segreto' do Palazzo Lomellino é um jardim escondido e exclusivo do século XVII, localizado no terraço superior e projetado como um espaço de relaxamento e contemplação. Ele combina plantas ornamentais, esculturas e elementos aquáticos, formando um oásis verde no meio da arquitetura barroca do palácio.




A Melhor Parte é Explorar as Mágicas Vielas


Durante esse trajeto, algumas vielas interessantes atravessam a Via Garibaldi. Esses becos, chamados de "caruggi", são verdadeiros patrimônios de Gênova, pois preservam características únicas que vão do passado medieval aos dias atuais da cidade. 


A palavra 'caruggio' possui várias derivações; a que considero mais interessante é sua possível referência ao árabe kharuj, que significa 'saída'.

O mais antigo 'caruggio' da Itália fica em Gênova, na Via di Sottoripa, também chamada de 'Pórticos de Sottoripa'. Construídos entre 1125 e 1133, esse corredor tem como característica um interessante teto decorado com abóbadas cruzadas.


Outras vielas que expressam o que é a essência da cidade lígure são a Via degli Orefici (rua dos joalheiros) e Vico del Ferro (beco do ferro), por exemplo. 


É possível passar um bom tempo percorrendo esses estreitos e nostálgicos lugares, explorando uma parte autêntica da cidade, onde cada detalhe se revela como uma página viva de um antigo livro de história.


Não me lembro dos nomes das poucas vielas que percorri, mas recordo que me perdi em algumas delas. Por um lado, isso foi ótimo, pois encontrei várias surpresas, como sebos, antiquários, focaccerias e diversos comércios locais. Por outro, senti um certo receio em algumas, no fim da tarde, especialmente por estar sozinha.


A Piazza Raffaele de Ferrari é uma das maiores praças da capital da Líguria.

Atravessando a Cidade pelos Pórticos


Ao final da Via Garibaldi, continuei caminhando até a Piazza delle Fontane Marose, em direção à Piazza De Ferrari, admirando lindas fachadas, como a do Consolato del Principato di Monaco, além das diversas lojas da Via XXV Aprile. 


Fiquei um bom tempo encantada com essa parte da cidade, que se espalha ao redor do chafariz da enorme Piazza Raffaele de Ferrari.


Os edifícios que a cercam não se comparam ao maravilhoso Palazzo della Borsa di Genova, que, para mim, se destaca em relação aos outros. Além disso, é relaxante observar as famílias passeando e sentir toda a vibração de um fim de semana nesse local.




No primeiro dia, percorri o longo caminho dos belos pórticos da histórica Via XX Settembre, que possui aproximadamente um quilômetro de extensão e abriga diversas lojas e cafés, até chegar a uma outra Gênova mais contemporânea, na Piazza della Vittoria.


O contexto aqui é muito diferente do centro histórico medieval, transmitindo um ar de modernidade característico do século XIX, especialmente na região do Arco Della Vittoria.


O verdadeiro valor de explorar essa parte da cidade, além de reconhecer a importância da arquitetura e do urbanismo na forma como usufruímos do espaço urbano, é também descobrir os detalhes arquitetônicos dos tetos, pisos e colunas dos imponentes pórticos do Corso XX Settembre, que às vezes são ignorados.

Um dos meus arrependimentos, pensando em retrospecto, foi não ter explorado o Mercato Orientale di Genova, conhecido também como MOG, e que fica quase no final da Via XX Settembre. 


Imagine não petiscar a farinata, não provar a trofie - uma massa típica da Ligúria - acompanhada do genuíno molho pesto, que nasceu aqui; não saborear uma autêntica focaccia genovesa! Enfim… Mais um motivo para eu voltar a Gênova!


O principal mercado da cidade, que deve seu nome à posição que ocupava em relação ao centro, está localizado no antigo claustro do convento anexo à Igreja da Consolação, construída entre 1684 e 1706. 


De tempos em tempos, são realizadas algumas restaurações no local, sendo a mais recente em 2019, que trouxe a abertura de novos restaurantes e barracas de comida, também funcionando à noite


A icônica Passegiata Anita Garibaldi no bairro litorâneo de Nervi. (Foto: Dexmac)

Descobrindo Novos Caminhos


Antes de concluir este longo artigo, no qual compartilharei o "segredo" do roteiro dessa viagem, gostaria de comentar brevemente, que, no final do primeiro dia, continuei passeando pelas imediações da Stazione di Genova Brignole.


De lá, eu poderia ter pego um trem regional e, em poucos minutos, chegado a Boccadasse ou à encantadora Nervi, uma vila de pescadores que foi incorporada à cidade, tornando-se um dos bairros litorâneos mais bonitos de Gênova


Contudo, minha visita aos jardins e casarões dos Parchi di Nervi, bem como, uma caminhada pela icônica Passegiata Anita Garibaldi, ficou para uma próxima oportunidade!




Praticando o Desapego no Segundo Dia da Viagem


No segundo dia, partindo da Piazza Raffaele de Ferrari, segui atravessando os pórticos do Palazzo della Regione Liguria, atenta aos detalhes do piso amarelo adornado com mosaicos de diferentes padrões. 


Virei à esquerda, na Via di Porta Soprana, sem saber que estava prestes a chegar à  medieval entrada da cidade de Gênova, a Porta Soprana, construída entre os séculos IX e XII. Nela, há placas de pedra com inscrições datadas de 1155. Além disso, atrás dela, no Vico Dritto di Ponticello, fica a antiga casa de Cristóvão Colombo.


Todo esse entorno é rico e revela um universo de ruas, igrejas, cafés, pequenas lojas e edifícios coloridos com fachadas ativas; ou seja, o comércio localizado no térreo dos prédios residenciais - uma característica bem típica da Europa.


Percebi, então, que valeria a pena explorar essa área em outra oportunidade, e decidi retornar pela mesma rua em direção ao Porto Antico.


Durante o percurso até a Piazza Giacomo Matteotti, que abriga a belíssima Chiesa del Gesù e dei Santi Ambrogio e Andrea, além do Palazzo Ducale, pude observar muitas famílias passeando tranquilamente, saborear um café, contemplar o interior da igreja e sentir aquela preguissinha gostosa de fim de tarde!




Antes de encerrar o dia, ainda estava curiosa para conhecer toda a região portuária. Desci, então, pela Via San Lorenzo até a Piazza Della Raibetta, explorando a Via Filippo Turati, à esquerda da histórica Via di Sottoripa.


Na sequência, passei pelo mercadinho da Via della Mercanzia, contemplando a bela fachada do histórico Palazzo San Giorgio, que fica em frente.


Já no Porto Antico di Genova, apreciei a entrada do cais Falcone Borsellino, que oferece uma vista direta para o mar. 


Todo esse espaço é fruto de uma ampla requalificação portuária ocorrida nos anos 1990, liderada pelo arquiteto Renzo Piano, que transformou a área em um grande centro cultural e turístico. Na época, a intenção era preparar o lugar para as comemorações dos quinhentos anos do 'descobrimento' da América, a Expo Genova 92


A requalificação do Porto Antico de Gênova foi uma das maiores da Europa.

Ali, há um pouco de tudo: o "Bigo", um elevador panorânico giratório com vistas de 360 graus do porto; o Galata Museo del Mare, que explica por que Gênova é uma potência náutica desde tempos remotos, além da história das imigrações italianas às Américas; e o Magazzini del Cotone, um antigo armazém de algodão do século XIX que hoje abriga salas para eventos, cinema, restaurantes e espaços para diversas atividades culturais.


Temos ainda, a Biosfera, o Aquário de Gênova e, seguindo à esquerda, diversos restaurantes, bancos para apreciar o mar e embarcações de todos os tipos no Calata Molo Vecchio


Na outra parte, seguindo à direita da praça principal, que não consegui visitar, estão o Galeone Neptune - uma réplica cenográfica de um galeão fictício do século XVII, projetada pelo arquiteto naval David Cannell; o pier dos cruzeiros da empresa MSC; e, ao final, a icônica Lanterna di Genova, o antigo farol da cidade.  


Todo esse extenso espaço para pedestres que o antigo porto oferece é um exemplo de como a requalificação urbana pode transformar um local esquecido e degradado em um lugar vivo, pensado para os moradores e, consequentemente, para os visitantes.

Como "turistas", observar e aprender sobre a vida em outras cidades nos convida a refletir sobre melhorias possíveis para o lugar onde vivemos.


Embora nem tudo seja aplicável à nossa realidade, essas descobertas podem inspirar novas ideias sobre como coletivizar a qualidade de vida.   

 

Vista do 'Bigo', um elevador panorâmico localizado logo na entrada da extensa área portuária.

Acredite: Não Planejei Nenhum Roteiro!


Embora faça uma pré-organização em relação ao transporte e à hospedagem, o que não faço mais é criar um roteiro rígido com horários e lugares que "tenho" que visitar. Muitas vezes, prefiro deixar que o próprio lugar me guie e que a experiência aconteça de forma espontânea.


Tenho consciência de que o local que pretendo visitar influencia essa decisão. Contudo, cada vez mais, meu estilo de viagem se tornou mais intuitivo - se essa for a melhor palavra para descrever.


Na prática, o pouco planejamento que faço quando já estou no local se resume a calcular o tempo entre o ponto A e o ponto B.


Normalmente, olho o mapa no celular, do ponto onde estou até onde quero chegar. Se o itinerário ultrapassar uma hora de caminhada, já sei, por experiência, que isso vai ocupar uma manhã ou tarde inteira. Basicamente, é assim que organizo meu dia ao chegar ao destino.


O grande "segredo" é deixar que o próprio lugar dite os caminhos e revele os pontos interessantes a serem conhecidos. 

Além disso, sempre que possível, incluo pausas regulares ao longo do percurso, pois gosto de contemplar e digerir com calma todas as informações, estímulos e sensações novas que o ambiente está oferecendo.


Acredito que essa prática pode ajudar a trazer de volta àquele sentimento de novidade, contentamento e relaxamento que muitos anseiam quando têm a oportunidade de tirar um tempo de folga.


Considero que praticar esses momentos de intervalo nos ajuda a olhar o entorno sob 'novos olhos', transformando a viagem em uma experiência estética, ou seja, uma experiência de (re)descoberta da beleza no mundo. Algo que, por diversas razões, parece estar se perdendo.

Em Gênova, por exemplo, eu sabia que queria ver o mar e explorar o centro da cidade, então apenas segui nessa direção. Pelo caminho, passei por ruas históricas, entrei em catedrais deslumbrantes e contemplei edifícios magníficos! 


Só me dei conta da importância dos lugares por onde passei ao me aprofundar, depois, em uma longa pesquisa para escrever este artigo e editar os vídeos para o canal Viajar Sem Pressa no YouTube - o que, surpreendentemente, revelou-se um "roteiro" bem interessante!


P.S.: Em breve, publicarei novas reflexões sobre como aproveitar melhor cada viagem e como o turismo pode ir além do simples lazer.



📝 PRINCIPAIS REFERÊNCIAS DO POST*:


Vídeo Canal Viajar Sem Pressa: Explorando Gênova Lentamente em 2 Dias.



🐌 GUIA BÁSICO DO SLOW TRAVEL:

*Nota: Este post é um editorial.

*Artigo © 2021–2024 Viajar Sem Pressa. Todos os direitos reservados.

 

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